segunda-feira, 27 de maio de 2013

militancia

[ ela diz quem sou]
Quando me perguntam se entrei na militância agora, prefiro não falar nada. Mas lembro que sou filha de Jovanina Soares. Com formação apenas até a quarta série, alfabetizou quase um bairro inteiro, alunos esses desacreditados, expulsos de outras escolas, considerados incapazes de aprender, Jovanina dava jeito! Transformou sua casa em escola, mas também era parteira, curandeira, costureira, benzedeira (me desculpe os chineses, mas ventosa aprendi com minha vó), entendia de alvenaria, com serrote na mão fazia mesa e cadeira de madeira com divina perfeição. Dividia uma maçã em 12 partes, alimentou operários em grandes construções. Ajudava até mesmo quem ela tinha como inimigo. Dona Inácia, era a unica senhora moradora da rua que ainda tinha sua casa de taipa, minha vó e ela estavam naqueles longos anos de inimizade. 
Muito conhecida e prestativa, tinha uma fila a perder de vista de pessoas que lhe deviam favores. Perto da chegada do inverno, que dura 6 meses em São Luis, ela passou a arrecadar dinheiro pedindo a todas as pessoas que passavam pela rua, comprou tijolo, cimento, todo material necessário. Seu Luiz, pedreiro, pai da ultima criança que ela trouxe ao mundo, ficou grato em poder retribuir construindo a casa de dona Inácia. Na politica morreu defendendo e fazendo militância para seu Basileu, que nunca conseguiu ser eleito vereador do Bairro de Fátima. Em casa quem mandava era ela, serviços domésticos eram iguais para homens e mulheres, diferenciava-se apenas a idade, quanto mais velho, mais trabalho. Aos 71 anos se divorciou (sempre revolucionária!) foi pescadora, momento que curtiu um cigarrinho de maconha. Cigana, montava cavalo e derrubava no laço sem perder a pose e pra falar de cultura popular, teatro, dança e lazer, fechava as ruas e dizia " hoje carro não passa, hoje vai ter quadrilha" ( Antes de sair de casa tenho que aprender com ela, não conheço mulher mais bela, inteligente e valente que me ensinou o que é ser pra frente!)

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